Traduzioni

 

De Leopardi a Antonio Fortunato Stella

 

Bolonha, 13 de setembro de 1826

 

 

Sr. e amado amigo.

Às suas caríssimas do dia 2 e 6, a primeira chegou depois de eu já ter fechado a minha última carta do dia 6. Após Tiraboschi, e especialmente depois de Ginguené, e agora também Foscolo com seus ensaios sobre Petrarca, é bem difícil dizer alguma coisa nova sobre esse poeta. Apesar disso, eu teria algo a acrescentar, mas com certeza os meus pensamentos estariam fora do lugar ao final da minha interpretação, e iriam em direção contraria ao interesse da edição. Eu lhe confesso que, especialmente, após o manuseio do Petrarca, com toda a atenção necessária para interpretá-lo, eu não encontro nele senão pouquíssimas, mas verdadeiramente pouquíssimas belezas poéticas, e estou totalmente de acordo com a opinião de Sismondi, o qual, ao mesmo tempo em que reconhece Dante como digno de sua fama, e ainda de maior fama se fosse possível, confessa que nas poesias de Petrarca não lhe foi possível encontrar a razão da sua fama. Os meus pensamentos se voltariam sobre este ponto, e o senhor bem vê que tais pensamentos não são para fazer fortuna na Itália nestes tempos. O platonismo de Petrarca parece-me uma fábula, pois em várias partes de seus versos ele demonstra evidentemente que o seu amor era como o de tantos outros, sentimental sim, mas não sem a sua finalidade carnal. O bom Torinese que lhe escreve não deve ter lido grande parte do nosso Petrarca. Ele percebeu que eu, algumas vezes, conheço os casos dos nomes ou os gêneros dos verbos etc. e isto é quando à primeira vista não se entende se o caso é acusativo ou nominativo, se o verbo é ativo ou neutro, etc.  Perceber essas coisas me serve para fazer uma hipótese em um piscar de olhos. Mas ele acreditou que eu as percebesse para ensinar a gramática. Aqui em Bolonha, na Romanha e na Toscana, não apenas as mulheres, mas os primeiros literatos acolheram diferentemente aquele meu comentário; não o julgaram indigno do seu próprio uso; disseram que não era possível explicar um autor nem mais plena e claramente, nem com mais economia de palavras; e alguns me confessaram ter, com a ajuda de um deles, compreendido, pela primeira vez, várias passagens que até então não tinham compreendido, ou melhor, tinham compreendido o contrario. No final, chegaram a dizer que isso deveria servir de modelo para todos os comentários; e em Bolonha seria realizada de imediato uma reedição se não tivessem sabido que eu me oporia com todas as minhas forças. As críticas de Torinese e de Veronese não necessitam de resposta, e eu normalmente não levo em conta as críticas. No entanto, escreverei em forma de conclusão da obra, uma breve resposta, que o senhor com plena liberdade colocará no final do meu comentário, ou a rejeitará totalmente, segundo o que melhor lhe parecer.

 

Diante da cópia do parágrafo do Torinese, eu vi na sua carta um cancelamento feito com muita precisão, a qual me demonstra que o senhor quis esconder-me a pessoa. Se o senhor conhece o meu sangue frio nesses assuntos, e se me credita prudente o suficiente e também justo o suficiente para não abusar da sua confiança, gostaria meu caro, quando, porém, não lhe desagradar, de saber por curiosidade o nome do Crítico, que, aliás, poderá ser um ótimo homem. 

 

Artigos adaptados para o Ricoglitore em meus manuscritos não se encontram. Quanto ao Dicionário Filosófico, lhe escrevi dizendo que eu tinha os materiais prontos, como é verdade; mas o estilo, que é coisa mais trabalhosa, falta realmente, visto que são lançados sobre no papel com palavras e frases pouco inteligíveis aos outros. E ainda, estão espalhadas em milhares de páginas, contendo os meus pensamentos; e para poder extrair os que pertencem a um determinado artigo, seria necessário que eu relesse todas aquelas milhares de páginas, assinalasse pensamentos que serviriam ao acaso, os dispusesse, os ordenasse etc., coisas que eu farei quando ao senhor parecer melhor que eu propositalmente amplie este Dicionário; mas que não é possível fazer neste momento, senão para um ou dois artigos somente. No entanto, para o seu Ricoglitore eu tenho algo que me parece ser muito oportuno. Começou-se recentemente na Inglaterra a publicar uma revista inglesa, destinada exclusivamente à literatura italiana. Essa revista é desconhecida na Itália, e o senhor sabe que a curiosidade dos italianos se altera com os comentários dos estrangeiros sobre os nossos livros. Parece-me que se o Ricoglitore tivesse uma seleção dos melhores artigos desta revista traduzidos para o italiano, com alguma nota, observações etc. do tradutor, destacando onde a literatura italiana devesse ser defendida imparcialmente; o Ricoglitore conquistaria um grau de interesse muito grande, e também conquistaria uma grande utilidade, nos debates urbanos que aconteceriam entre uma nação e outra, nos confrontos das opiniões literárias das duas nações etc. Em breve, terei e lhe mandarei o título da tal revista, com as indicações necessárias. Eu ofereço-me a assumir tanto a escolha quanto a tradução dos artigos, e a fazer as notas que forem necessárias. E se o Senhor aderir a este meu conselho poderá expedir a revista inglesa diretamente a Bolonha, para evitar os atrasos da Censura lombarda.

 

Recebo hoje do Brighenti o primeiro volume do Petrarca e o seu magnífico Cícero. Pelo que rapidamente pude ver, fiquei realmente muito feliz com as notas latinas, que acho ótimas e muito correspondentes ao gosto e aos costumes dos filólogos do nosso tempo. O resto da edição, não apenas me agrada, mas me surpreende. O seu Cícero será sem nenhuma dúvida o mais belo e o melhor Ciícero que a Itália jamais viu. Gosto muito também do prefácio do Sr. Soncini, homem que eu não conheço a não ser pelas poucas coisas suas, mas que me parecem bem escritas, pois demonstram inteligência e estudo. Mandar-lhe-ei então a errata dos 4 volumes do Petrarca.

 

Incluo a minha pequena apologia petrarquesca, da qual lhe falei acima. O Senhor a avalie e faça dela o que achar melhor.

 

Reuni as notícias necessárias sobre a revista inglesa acima mencionada. Não é dedicada exclusivamente à literatura italiana, como me parecia. Mas no prospecto, que eu mesmo vi, promete conceder uma particular atenção à nossa literatura, geralmente negligenciada pelas outras revistas inglesas, e se anuncia que os redatores estão, através de correspondências, em condições de receber mais informações do que se tem na Inglaterra sobre as nossas produções literárias. O título é The Panoramic Miscellany, ou seja, Miscelânea Panorâmica. É publicado mensalmente em Londres na tipografia Effingham-Wilson. A primeira edição saiu no final de janeiro p. p., a preço de três xelins e meio. Contem várias partes relacionadas à literatura italiana, e entre outros, uma síntese da mesma desde sua origem até o presente. Repito que ter periódica e regularmente traduzidos ou analisados, com as notas apropriadas, reflexões etc. os artigos dessa revista relativos à nossa literatura, parece-me que daria ao Raccoglitore um maiorgrande interesse e muitos leitores.

 

A toda sua família, e ao Sr. Luigi em particular, as minhas distintas saudações. Ame-me e acredite sempre em mim.

Seu afetuoso amigo e ser.

 

Giacomo Leopardi

 

 

Tradução realizada a partir do texto Leopardi, Giacomo. Epistolario. A cura di Franco Brioschi e Patrizia Landi.Torino: Bollati Boringhieri, 1998, pp. 1236-1240


Tradução de Daniela Campos e Margot Müller – Universidade Federal de Santa Catarina